Em 2008 me joguei para o Taiti para ficar dois meses, mas acabei permanecendo seis. Foram alguns momentos inesquecíveis, não apenas pelas ondas em Teahupoo mas pela convivência com a família Lemaire (Marama, Tuatini e Papa).
O Marama é policial, um cara muito tranquilo que fez da sua casa uma surf house. No Taiti as pessoas são felizes, simpáticas e sorridentes.
A ilha é linda, alterna períodos de sol e chuva constantemente, é cercada por uma barreira de corais com ondas diferentes em cada saída de canal e montanhas majestosas.
Difícil encontrar bancadas fáceis por lá. A melhor opção então acaba sendo Teahupoo. Já que é para cair pra dentro, melhor cair com tudo que tem direito. Há muitas mangueiras na rua e uma fruta pão deliciosa que o Papa preparava na panela de pressão. Água pura e cristalina na torneira.
Final de tarde o pessoal costuma vender os atuns pescados, pendurados na beira da estrada como troféus. Sashimi fresquinho, energia garantida para o surf do dia seguinte. Teahupoo é um onda apaixonante, nem se fala, perigosa e sedutora, como o canto da sereia.
O fundo do mar é outra coisa incrível. Nos dias sem ondas, gostava de por uma máscara de snorkle e nadar pelos corais com a cara para baixo o tempo todo. Era uma forma de fazer exercício e contemplar o lugar ao mesmo tempo. Naquele ano, o crowd era algo bem tranquilo, não sei como está hoje em dia… Em 2011 retornei e fiquei mais um mês, maio. Competi o Stand Up World Tour, mundial de SUP em uma onda chamada Sapinus, parecida com Teahupoo, mas fechava mais… Pegamos um swell de responsa, enquanto lá rolava o evento, em Teahupoo estavam Laird Hamilton e Raimana comandando o tow in.
Foi uma boa experiência competir por lá, melhor ainda ter aquelas ondas à disposição. Fui até as quartas, mas tomei um lip pesado na cabeça. O resultado foi todos os metatarsos do pé esquerdo luxados, ou seja, não sobrou um osso no lugar. Saí de jet até a praia, resgatado pelo Vetea David, e em seguida de ambulância para o hospital. Três dias depois estava no Brasil me recuperando. Apenas um susto. O Taiti é a última fronteira do surf, um lugar que te deixa de cabeça feita para o resto da vida. Lembranças inesquecíveis de um povo feliz e ondas pesadas.