Uma solução tecnológica simples e econômica desenvolvida em parceria entre o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e o Centro de Pesquisas Oncológicas de Santa Catarina (Cepon) recebeu um prêmio nacional e está em vias de ser patenteada. Trata-se de um simulador específico para os controles de testes mecânicos em aceleradores lineares – que são os equipamentos utilizados no tratamento de radioterapia em pacientes com câncer.
Desenvolvido como trabalho de conclusão de curso (TCC) das hoje tecnólogas em Radiologia Daniela Maria Müller e Tainah Oliveira e Miranda, a pesquisa foi apresentada no 25º Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia, no dia 18 de novembro, pela estudante Fernanda Cristina Souza dos Santos, e recebeu o Prêmio de Inovação Científica no Encontro de Técnicos e Tecnólogos em Radioterapia, realizado durante o evento.
As professoras Juliana dos Santos Müller e Charlene da Silva, líderes do Grupo de Pesquisa em Aplicações Radiológicas (GPAR-IFSC), relatam que a demanda para o desenvolvimento do simulador partiu do Cepon, onde os profissionais que atuam com os testes dos aceleradores lineares relataram inadequação do material utilizado, geralmente em papel. Elas explicam que os aceleradores lineares precisam passar por testes frequentes para avaliar a precisão da incidência da radiação em relação ao campo luminoso que “guia” a aplicação. Uma etapa desse procedimento geralmente é feita por técnicos ou tecnólogos em Radiologia, junto a um físico médico.
Para o desenvolvimento do protótipo, a equipe contou com o apoio de outros laboratórios do Câmpus Florianópolis, que disponibilizaram o uso de impressoras laser e 3D.
O objeto simulador chamado de CoDaTa-RT, em fase de registro de patente, foi desenvolvido utilizando uma placa de MDF cru de 3 milímetros de espessura, marcada a laser com campos de tratamento quadrangulares de diferentes tamanhos, conforme a legislação pertinente. Duas réguas milimetradas foram incorporadas para mensuração de desvios, com as marcações feitas no programa Autodesk Fusion 360. A produção do simulador envolveu a impressora 3D Creality Ender 3, utilizando filamento à base de ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno) contendo Bismuto para conferir radiopacidade ao material utilizando um bico de extrusão de 0,8 milímetros.
As impressões foram inseridas no objeto simulador, representando o isocentro da grade reticulada e marcações concêntricas nos campos. A letra "G", representando o gantry, foi estrategicamente posicionada.
Versão preliminar (protótipo) na realização do teste de campo luminoso |
Os testes de validação revelaram que o CoDaTa-RT é eficaz nos indicadores do tamanho de campo, centro reticulado e centro do campo luminoso, sendo aplicável no controle de qualidade mensal para o teste de coincidência de campo luminoso e campo de irradiação.
As professoras destacam que, além de eficiente, o simulador combina rapidez e baixo custo de produção: custa cerca de R$ 15,00 em insumos e demanda 25 horas para ser fabricado. “Essa inovação promete otimizar os processos de controle de qualidade em radioterapia, contribuindo para a excelência nos tratamentos oncológicos e reforçando a importância da colaboração entre instituições de pesquisa e setores clínicos”, destaca Juliana. Além disso, o resultado é um importante retorno à sociedade, já que o conhecimento e os benefícios do produto desenvolvido serão aplicados em tratamentos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Juliana e Charlene também ressaltam a importância desse resultado na formação integral das estudantes envolvidas, já que a pesquisa partiu de uma demanda real e exigiu a construção coletiva de conhecimentos com base nessa demanda, chegando a uma solução simples e inovadora. Elas salientam que as duas egressas autoras do TCC original já estão atuando em empresas da área e a graduanda responsável pela apresentação do trabalho no congresso pôde vivenciar esse tipo de experiência pela primeira vez. “Nós escolhemos uma aluna bolsista para apresentar a pesquisa, uma pessoa que nunca tinha feito uma viagem desse tipo, e a experiência para ela foi muito enriquecedora”, comemora Juliana.
Software pedagógico
A parceria com o Cepon rendeu outra pesquisa em andamento com a equipe do CST em Radiologia do IFSC: o desenvolvimento do software Radif, ferramenta pedagógica virtual gratuita com foco no ensino das técnicas radiológicas, que também está em processo de registro de patente. O trabalho conta com a parceria do Instituto Federal da Bahia (IFBA).
Resultados da pesquisa foram apresentados em 2022 no 24º Congresso Brasileiro de Radioterapia, com o título “Desenvolvimento e aplicação de uma interface virtual destinada ao estudo do delineamento e treinamento aplicado a teleterapia com auxílio do software RADIF”.
As professoras explicam que o uso de softwares especializados em anatomia radiológica são uma alternativa para diminuir as dificuldades de aprendizagem, possibilitando uma formação profissional direcionada à prática laboral. O uso de softwares, destacam, não tem aplicação apenas no ensino teórico, mas permite a abordagem de práticas clínicas e permite avaliar os domínios do estudante em determinadas situações. “Colocando o usuário em situações que a resposta imediata é necessária e executada com prudência, podendo assim aferir habilidades de comunicação, relações multidisciplinares e em contato com o paciente em um ambiente seguro e didático”, explicam. |