* Aline da Rocha Lino,
Médica oncologista da Oncoclínicas Grande Florianópolis
Outubro Rosa é um movimento voltado ao câncer de mama, e falar de prevenção é o que geralmente fazemos nesse mês. Hoje, porém, queremos nos dirigir a todas mulheres que já viveram esse diagnóstico, e são 70.000 anualmente no Brasil. Muitas pessoas ainda não sabem: 80% dessas pacientes ficam curadas. No entanto, tem o outro lado da moeda e que, muitas vezes, é de um árduo caminho.
O caminho de quem já viveu o diagnóstico começa na investigação, na espera dos exames e no tormento de saber se está ou não com câncer. São dias longos e noites ainda maiores. A expectativa e o medo começam a se fazer presentes na vida da paciente, e também dos seus familiares. O dia do diagnóstico costuma ser referenciado como inesquecível. Tenho pacientes que dizem "sentir como se o chão estivesse abrindo sob os seus pés". E não é para menos. A palavra câncer ainda vem associada com morte e oportunidades perdidas.
A boa notícia é que a oncologia está evoluindo, e muito! Os tratamentos estão a cada dia mais eficazes e os efeitos colaterais também têm sido minimizados. Isso se traduz em chances cada vez maiores de alcançarmos a cura.
Mas não significa que atravessar essa jornada será fácil. Para algumas pacientes, muitas vezes é mais difícil e penoso lidar com o medo da recidiva do câncer. Temor que possa retornar ou progredir no mesmo lugar ou em outra parte do corpo.
Mesmo as mulheres que terminaram o tratamento há algum tempo e que, de certa forma, sentem que ganharam a batalha contra o câncer, vivem em um estado de alerta com relação à doença.
E o que podemos fazer para ajudar tantas mulheres a enfrentar esse medo? Em primeiro lugar, é ouvindo-as. Não apenas no consultório médico, como também no ambiente familiar, de trabalho. Ou até mesmo promovendo rodas de conversas entre as pacientes para que sintam que não estão sozinhas nessa caminhada.
Se verbalizar esses medos não for possível, recomento a exposição por escrito. Pode parecer banal, mas garanto que não é. Colocar no papel suas angústias e o que tem por trás do medo da volta do câncer pode ser um alívio para essa dor.
Outra conduta essencial é munirmos as pacientes de informações de qualidade a respeito da sua doença e extinguir comparações irreais com outros casos. É essencial ajudarmos as pacientes a adquirirem um maior repertório de habilidades de enfrentamento e, com isso, melhorar a convivência com a doença.
Toda paciente que já enfrentou o diagnóstico de câncer precisa acreditar que sua história é única, que seus medos precisam ser ouvidos e respeitados, que alterações novas no seu corpo precisam ser investigadas, e entender que sua relação com essa doença merece ser harmônica.