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ABELHEIROS E VESPEIROS

 

 

A tendência é escassear ainda mais a oferta de lotes nas áreas planas e bem servidas de infraestrutura, nada de novo, isto já é um fenômeno percebido hoje na nossa Garopaba.

Este simples fato acende uma mão cheia de luzes amarelas, já passando a vermelho.

A cidade dependerá mais de serviços de conservação, de custeio, do que de construção, de investimentos. A municipalidade e o mercado da construção civil terão que se adaptar. Será? Vão querer mexer em índice de ocupação, de altura, no número de unidades habitacionais por lote, já foi feito antes, usando de argumentos que fazem pensar.

A malha urbana pressionará ainda mais as encostas e as áreas baixas, também já visível, e nem desenhamos ainda parques e corredores biológicos.

Esta escassez já elevou consideravelmente o valor do m2, está difícil para moradores tradicionais segurarem sua propriedade e vínculo com o local onde se criaram, ainda menos manter a família próxima. O muito discutido e analisado fenômeno da gentrificação, quando há uma substituição desta ocupação tradicional por uma estrangeira, de fora.

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Trilhas que percorram todo este nosso território, trilhas seguras, conservadas, equipadas e bem desenhadas. Temos várias , algumas antigas e históricas, outras potenciais. Tem a da Pedra Branca, a dos Cavaleiros, a da Ponta das Caranhas, a do Siriú, a do Crispim, a do Macacu, a da Silveira, a do Costão das Cobras, entre tantas, um potencial turístico e educativo enorme. A da Vermelha, que mais foi pensada e discutida, é um exemplo de sucesso, não tem quem se hospede nas cercanias e não vá conferir. 

 

A agricultura tradicional também tende a ser afugentada do território. Ainda temos, mas algo do que vemos não é em terra própria, é zeladoria e conservação das áreas de pasto usando do expediente de empréstimo ou comodato. E tem também o mecanismo de exploração rural para fins de redução de IPTU.

Este aumento no número de casas por lote, mesmo que não se altere a área construída, é uma mentira bem vendida, fingimos não ver. Mais casas, mais carros, mais pavimentação, menos infiltração, mais água no sistema pluvial. Casas coladas, sem vegetação, ilhas de calor, e de ruído. 

Como se pilota esta nau? Como se reduz a chance de errarmos, de comprometermos valores sócio ambientais, para não transformarmos esta simpática e aprazível região em algo comum? Porque os erros serão percebidos décadas de agora, o leite terá derramado.

Temos recursos vários, o primeiro é a inteligência. O segundo é a determinação. E o terceiro, o trabalho.

Como artifícios, temos as ciências do urbanismo, da pesquisa, da sociologia, da antropologia, entre outras.   

Plano Diretor Urbanístico e Sócio Ambiental, Fiscalização, Regularização Fundiária e Tributação Estratégica são o instrumental desta navegação. Orientam e conduzem, estimulam e inibem, dão segurança aos passageiros. Impostos podem estimular uma área estocada a ser desovada, um terreno pode ser caro de ser guardado. Da mesma forma, impostos podem estimular uma menor ocupação, e uma preservação do verde, da paisagem.

Há uma absurda transferência de valor ambiental. Lotes urbanos impermeáveis se beneficiam da mata das encostas. Valem mais por avistarem os morros, mas no fundo estão de costas para o problema. Urge equalizar esta desigualdade. Porque a pressão do mercado quer esta belezura arruada, mais oferta...E a galinha, sendo morta.

A cidade convencional, nas áreas óbvias de serem ocupadas já se desenhou. Precisamos aparelhar esta malha de transporte público e ciclovias. A maior parte das áreas marginais a esta malha, serão mais úteis a cidade se incorporadas com urbanizações sustentáveis. 

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 Falar de enchente numa seca destas... tô louco. A persistir nosso modelo e velocidade de urbanização, em breve nos defrontaremos com este problema. Água que não entra no solo, escoa, cada vez mais água e menos solo para infiltrar, vai elevar o nível das águas que costumam alagar as áreas baixas. Alguém precisa calcular este volume, e estabelecer limites. Tanto na ocupação onde escorre, como onde alaga. 

Quem morar nestes núcleos será guardião da paisagem. Parece fácil, mas não o é. A legislação estimula a máxima ocupação, tudo foi desenhado para tirar o suco da terra. E, tomara, se possa cobrar ali IPTU da Vigia, referência de bairro de morador com posses e que pode ser escalpelado. É bem isto, o imposto sendo pensado e definido como extintor. Esta mesma legislação estimula o condomínio de casas ao de lotes, ao cobrar do último um pedágio, uma tal área institucional. Não tem lógica a distinção. 

A quantidade de áreas marginais que tende a ser incorporada é grande, enorme. Precisamos que estas prestem Serviços Ambientais. Em vez de entregarem para a cidade terrenos, a tal área institucional e alguns até extraviados estão, entregar verde, mata, paisagem. Estimular que estes proprietários,  quando do momento de desenvolver algo, vejam vantagem em ocupar menos. O imposto ali, variável dependendo deste serviço prestado, deveria ser baixo sempre. Baixo que não obrigue a urbanizar. E baixo que não estimule a casa grande, a elitização, a casa mausoléu que é a que pode pagar esta extorsão.

 

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Garopaba não tem um, nem sequer um parque ambiental no município. Nos iludimos com expressões como APA, APP, Lei da Mata Atlântica, Reserva Legal, Área Verde , sei lá... Parque é uma área contínua, expressiva de uma característica da paisagem e do ambiente que se queira preservar. Que ali, em função da dimensão, as interferências do entorno ocupado seja menor. Onde as gerações futuras possam ter contato com esta riqueza. O ideal seriam vários, interligados por corredores biológicos. Quanto mais demorarmos, mais caro e complicado será implanta-los.

Floripa tem vários...

 

Ou esta área institucional pode ser entregue na forma de parcelas de um parque, em trilhas, em equipamentos ambientais, qualificando e garantindo que Garopaba mantenha seus atributos, sua marca.

Como avisei, abelheiros e vespeiros.

 

Texto Kiko Simch - Engenheiro Agronomo Paisagista @kikosimch

Fotos -Kiko Simch 




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