Garopaba é uma cidade onde a natureza é o diferencial que a distingue. Como garantir este valor, este atributo, fazendo isto de uma forma que a comunidade seja participante deste processo, seja cúmplice e se aproprie deste entendimento, esta é a questão que penso ser o gargalo e zona cinzenta.
Este limbo, esta neblina é o palco deste teatro. Nesta indefinição atuam os principais sujeitos. Quem poderíamos elencar como tais, quem são os atores principais desta peça em infinitos atos? Abre cortina, fecha cortina, palmas não se ouvem faz tempo, a platéia que não está dormindo já se retirou. São muito poucos os despertos, menos ainda os atentos, e sobram quase nada dos que entendem a trama. Só esperam o desfecho para saber se vaiam ou pedem o valor do ingresso de volta. É muito difícil falar de cidadania com tamanha farsa, ainda mais cobrar ela.
Vamos lá, quem são os atores...
Legislação, legisladores, julgadores e fiscalizadores, eternos e cansados atores, sabem que não vão ganhar prêmios e nunca serão aclamados pela crítica, ao contrário. Sobem ao palco, falam prá dentro muxoxos, estão quase sempre fora do tempo, parece que são dublados. Os patrocinadores ou donos da trupe, o arcabouço legal, não consegue incentivar, motivar, tirar deles uma vitalidade e brilho perdidos.
Advogados, peritos, técnicos ambientais e um sem fim de papéis que estão em letra miúda no folheto porque fica caro imprimir mais uma página, tantos são. Neste grupo tem de tudo, queridinho da crítica, protegido do diretor, rosto bonito, vozeirão que encanta, parente de alguém do grupo anterior, alguns poucos se destacam e perduram, e que garantem um espetáculo bom que possa ser aplaudido. O roteiro é ruim, o diretor pior, e ninguém se rebela e ousa fazer um solo, um monólogo que desnude a farsa e toque nas feridas, provoque a platéia a se manifestar e pedir mais atuações assim, que escancare a fragilidade e pobreza desta tragicomédia.
Imprensa, crítica, amantes desta arte essencial, ongueiros e blogueiros, que hoje galgaram esta condição, infelizmente, o grupo dos formadores de opinião, os influenciadores da opinião pública. Este grupo, para mim, é o mais importante para que uma peça seja reconhecida, um ator distinguido, um diretor ou roteirista execrado. Deles partiria a formação do público, da plateia, da cidadania, desta turma se espera a ignição para uma mudança, qualquer que seja. Desde motivar a ir ao teatro, prestar atenção a trama, entender mais do que entenderia se fosse por ir, sair do espetáculo querendo mais, insatisfeito. Discutindo no dia seguinte, e esperando a próxima encenação com mais bagagem, e assim a arte evoluiria. Mas este grupo está acomodado, súditos nanicos enrolados no manto do seu ego, dá pena. Falta a coragem para dizer verdades, de buscar ela, de ousar se expor, se desnudar, exibir suas fragilidades. Os críticos e imprensa em geral, como na fábula, tal qual o rei, está nua. Frágil na sua ignorância e na zona de conforto. Sobram poucos...
A platéia, a assistência, os pagantes, os que não conseguiram entrar, os que nem sabiam que tinha uma peça e uma maioria que não pode ou não cogita ir ao teatro, a tal massa. Disforme, esperando ser trabalhada, pequenas borbulhas de fermentações aqui e acolá. Chega nela o que convém, pré digerido e mal digerido. Esta massa quer saber mais, quer entender mais, quer se posicionar com um pouco, um pouco só a mais de consciência, de informação. O que esta massa pode fazer além de vaiar ou não assistir a peça? Ela pode muito, mas pode se tiver noção de sua potência, na energia latente que acumula, e precisa de catalisadores, de elementos que desencadeiem fenômenos de interesse, encantamento, esperança e retorno destes sentimentos. Perceber que ter participado, agido, questionado, se engajado, mudou algo. Este grupo está aí, poderoso e ansioso, desejoso de ser trabalhado.
E aí? Como ficamos? Como saímos deste labirinto, desta neblina, desta navegada onde não se vê o rumo. Precisamos de guias, líderes com sabedoria e competências. Como um pescador antigo, que mesmo numa neblina fechada, mar afora, sabe muito bem onde é a costa, onde tem pedra, qual o caminho a tomar, a tal sabedoria. Quem são estas pessoas, estes atores, estes formadores de opinião, estes gestores, estes técnicos que merecem a nossa atenção? Difícil saber se cada grupo não se depurar, se qualificar e se aprimorar.
Partidos políticos, montem quadros a altura da cidade e seus problemas. Nominem cidadãos com sabedorias, respeitados nos seus ambientes eleitorais.
Condutores executivos desta nau, busquem mais apoio na ciência da intervenção urbana no ambiente natural, se fortaleçam e ousem. Comprem brigas, serão muitas. Amparados na técnica, mais provável o sucesso.
Formadores de opinião, cautela com o que espalham. Estudem, leiam, indaguem, chequem e cruzem as informações. Vocês, talvez não saibam, são o principal vetor desta matriz, são os catalisadores da opinião, do engajamento, da participação do cidadão neste processo. São o veneno e a cura, muita responsabilidade.
Nós, a massa, o que podemos fazer? Sermos mais críticos e tolerantes, ouvirmos com atenção e trocarmos figurinhas, participarmos. Mostrar a potência desta massa, com cidadania, com civilidade, mas com determinação. Quem dirige a nau reconhece a força desta massa, somos o mar, somos o costão. Mariscos são os demais, diferentemente do que nos doutrinaram a aceitar.
Texto Kiko Simch - Engenheiro Agronomo Paisagista @kikosimch
Fotos - @likoska69