Escrevi uma coluna 2 verões atrás, em outra mídia. Este e outros pensamentos, quase todos que tenho pinçado, propõe um olhar diferente sobre nossas atividades, nossa pegada no planeta. E em particular, falo para Garopaba e seus apreciadores e consumidores.
Este momento de reclusão fez com que nos defrontássemos com duas, ao menos, questões: termos mais tempo disponível e termos nossas vidas sacudidas.
As virações do tempo, repentinas e surpreendentes para alguns, esperadas por quem conhece. Mas sempre de uma plástica espetacular, especialmente para quem estiver conectado e sentindo toda sua beleza.
Um texto que passou silencioso, como uma borboleta ou um beija-flor, naquele momento de costumeiro frenesi onde mais se consumia do que se apreciava, hoje talvez possa ser melhor recebido, fragilizados e fortes que estamos. Fragilizados, talvez, nas nossas crenças até o presente. Mas fortes nas nossas escolhas futuras, espero...
Falava desta condição necessária à percepção, de estarmos conectados e atentos ao que nos cerca de uma forma leve, tranquila e serena.
Bem, ao texto:
FLANANDO POR GAROPABA
A palavra da moda em turismo parece ser “experimentar”...
As pessoas estão entediadas de tanta informação e de tão pouca percepção e sensação.
Um encontro ao acaso, uma descoberta simples tornam a viagem e a vida mais verdadeiras.
Tempo é a chave. Viajar com a agenda cheia, para que?
Garopaba...,uma pequena cidade que tem um ritmo próprio e uma paisagem única pode ser conhecida de diversas maneiras.
Superficialmente , ou na sua intimidade, na sua reservada beleza.
A personalidade e o caráter da cidade estão nos detalhes, nas sutilezas. Sua originalidade e essência, sua verdade, está sob a superfície.
É no silêncio de uma conversa, numa curva da estrada que podemos ser sacudidos, surpreendidos e realmente conhecer o local.
Esta bagagem leve que passamos a carregar e não se extraviará tem um significado especial, foi deliciosa e casualmente descoberta.
Este sentimento infantil da descoberta, esta sensação de proximidade com a essência é que nos traz a leveza, e o sustento. Nutridos que estamos de felicidade plena e real.
Saindo da roda-viva de fazer o que recomendaram, do lugar-comum.
E como conseguimos esta proeza?
Passeando atentamente, observando a paisagem e as pessoas, os detalhes.
Nos perdendo numa trilha, desligando o celular...
Sentados num banco, tomando um café, olhando o movimento rítmico dos pescadores.
A plástica de um caserio em ruínas ou que denote abandono entremeando a malha urbana também nos ensina.
Observar a lida silenciosa da pesca, o ritmo ao remendar e consertar a rede, a rotina ao limpar e guardar ou embarca-la.
Cada um com sua função, uma orquestra, passada de geração em geração. Pode-se ficar horas olhando e captando sutilezas, como o reflexo do sol na linha, um coçar na barba, um cachorro que vem xeretear,...
Locais cosmopolitas e intensos não facilitam esta viagem em profundidade, doce e suave profundidade. São abrangentes, são espetaculares, nos consomem...
Locais deveriam ser locais, particulares e exclusivos. Exclusivo pela originalidade que carregam.
Não espere muito de Garopaba, não busque encontrar aqui o que já viu em outras viagens. Descubra o que ela tem, mas só ela tem.
Se delicie com isto, comungue com isto e guarde silenciosamente este momento, esta imagem, esta experiência.
Para chegar nesta intimidade e captar estas mensagens que a paisagem e as pessoas passam, observe com leveza, flane...
Garopaba é uma cidade ideal para flanar…”
Publicada em 2018 edição de verão da revista Vip Garopaba.
Espero que saiamos desta pandemia com uma visão ajustada das nossas vidas, deixando de consumir Garopaba e passando a apreciá-la. E que nossos desejados visitantes sintonizem esta frequência e tenham aqui uma experiência original. E que após esta tempestade prevaleça a essência daqui e ela nos guie.
Texto Kiko Simch - Engenheiro Agronomo Paisagista @kikosimch
Fotos - Divulgação
Fotos - @likoska69