Tá pra surgir um lugar com tanta idéia e tão pouca atitude, ação. É, aqui mesmo, Garopaba.
Mapa do zoneamento de Garopaba, onde cada setor do município tem sua vocação, uso e ocupação definidos. Ajustes e adequações estão sendo discutidas e implementadas, uma tarefa delicada e necessária.
Antes era no bar, no café, na esquina ou na praia que se externava um pensamento, se discutia e se trocava uma idéia. Agora não se troca mais, e sim se joga, se arremessa, se livra de um pensamento nesta rede de suposto alcance mundial. Ledo engano, sua idéia tal qual graveto num rio, para na primeira ou segunda curva, emaranhada com outras idéias-graveto.
Antes se estudava, se lia um livro de ponta a ponta, ruim que fosse, equivocada que fosse sua tese. Mas se lia todo e se construía ou desconstruía uma opinião. Hoje, numa sucessão de clics esquizofrênicos, se pesquisa um assunto de forma manipulada e facilmente a dispersa. Tente estudar balanço hídrico sem parar numa viagem a Urupema ou bota Catterpillar. Manter a determinação e buscar ouvir opiniões de academias que divergem, de fatos que se contradizem, de blogueiros que esclareçam, impossível. É uma brincadeira de gata cega, se tateia a esmo, se puxa um fio que de rede não tem nada, é mais um labirinto.
Não estamos nos nutrindo de informações, estamos nos empanturrando de citações e fontes mal formuladas e balanceadas. Saciada a fome de saber, de repleto que está o cérebro de links e frases de almanaque, nos satisfazemos. Empanzinados e intoxicados.
A cunha salina, bastante comentada nos fóruns ambientais locais, sempre foi um questionamento. Mas não temos dados. A impermeabilização urbana leva a uma diminuição eventual do lençol freático, mas a contribuição dos morros e significativa. É um perigo se ocorrer. Estão afirmando que está ocorrendo, mas sem dados. Isto é ruim, porque abre a porteira para inundar a discussão com pseudo informações. Aí, em vez da ciência ocupar seu espaço, o charlatanismo técnico toma corpo, em cima de uma questão pertinente.
E aí jogamos nossos resíduos desta congestão mental na rede, compartilhamos os frutos de nossa arrogância e pretensão. Como se ouve a expressão “A GRANDE VERDADE”, não? Ora, vão se catar... A sorte é que a maior parte destes para logo ali, numa curva do rio.
Mas não tem problema, é assim a democracia, normal que cada um faça a sua busca, o seu estudo, e construa a sua opinião. O equívoco está na presunção de ter a fórmula, a receita, a solução da questão, e depois em difundir como verdade absoluta.
Bem, desculpas por sofrer deste mal também, a grande verdade é que somos um grãozinho, nada. Temos que ter humildade e a ânsia, a sede do saber. A consciência de que sem ouvir e dialogar, sem mudar de ponto de vista nada se gera, nada se muda.
As cachoeiras estão mais fracas, algumas estão secas. Os morros estão mais vegetados se comparados com décadas atrás. As últimas chuvas foram mais intensas, menos água infiltrou no solo. Períodos de céu descoberto e vento aumentam a evaporação. Tem obras nos morros, mas tem mais mato, deveriam ter cachoeiras mais vivas, mas tem menos recarga de chuva..., Com a palavra os técnicos. Porque são tantas moitas com chutadores de plantão, que está uma Babel de desinformação.
As questões sócio-ambientais de Garopaba estão aí, pauta do dia, necessidade de ontem. O desenho ideal não acontecerá, o melhor sim, e o melhor será o resultado deste encontro de cérebros e egos. Dependerá da capacidade de ouvirmos e dialogarmos, de buscarmos suportes e pareceres, de nos dedicarmos e estudarmos, e de termos coragem de transgredir.
E será vital que o poder moderador destes fóruns seja hábil e culto, articulado e determinado, e que saiba conciliar e conduzir pessoas e idéias.
Que surja este Messias, porque de arremedos de profetas e apóstolos o território está cheio. Eu, ao menos, estou.
Texto Kiko Simch - Engenheiro Agronomo Paisagista @kikosimch
Fotos - Divulgação