Como todos sabem as Dunas são consideradas áreas de preservação permanente (APPs) assim definidas no Código Florestal Brasileiro, e merecem nossa atenção especial, pois tem função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade. Além de, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
O carnaval sem dúvida é um evento cultural de projeção nacional que faz parte de nossa cultura. Por todo o País milhares de foliões deixam seus problemas de lado e caem literalmente em festa, embora muitos não concordem e prefiram ficar em casa, mas tranquilo cada um tem sua opinião sobre o carnaval. Lembrem também sou DJ, gosto de música e carnaval, puxei umas 10.000 pessoas no Trio elétrico junto ao centro da cidade e, foi sem dúvida bem divertido e uma experiência incrível.
Por outro lado, o turismo pega carona nessa cauda do cometa e ganha projeções, muitas vezes assustadoras, quando se fala em milhares de pessoas num espaço pequeno. Falo isso pelo registro que fiz em pleno Sábado de Carnaval junto às areias da praia da Ferrugem, onde presenciei milhares de pessoas dividindo pequeno espaço, junto à beira mar, com som alto, barracas, resíduos etc. pisoteando às dunas, em desabalada busca por sanitários “ecológicos”.
Por ali vi que as cercas de madeiras dos decks, muitas delas já em trechos danificados foram quebradas, colocadas no chão mesmo, depredadas o que deixou passagem aberta para o grande público circulante que não respeitava nada.
Ora usavam o local como sanitário, ora como área de descanso, pois não tinha, isso mesmo não tinha por onde ficar. Resumindo os Decks estavam lotados, a areia lotada e por consequência as dunas também cheia de pessoas.
Aparentemente o problema não seria só um pipi, mas imaginem 10, 20.000 pipis e outras “coisitas”! A situação piorou também, porque toda aquela população estava usando um pequeno trecho de areia definido pela maré alta daquele dia, o que diminuiu o espaço para o público presente e potencializou o efeito danoso a um meio ambiente, instável e sensível, como é o caso das dunas.
Isso foi percebido desde o Bar do Zado, seguindo pelo segundo acesso nas proximidades do Ferrujão, espalhando-se em sentido as proximidades da Barrinha, devido a orla reduzida daquele dia.
Realmente, quando vi essa situação um tanto caótica, fiquei muito preocupado percebi que nessa ocasião, haviam muitos eventos paralelos na Ferrugem os quais atraíram, naturalmente, o público, e ficou bem claro que a orla da praia, dunas etc. ficaram desassistidas de estruturas temporárias necessárias.
Na minha opinião deveriam existir mais banheiros químicos, inclusive junto à areia mesmo, para dar conta do público lá presente naqueles dias. Outro quesito, entendo que deveria haver sinalização de proibição, bem como, instalação de barreiras físicas através de grades de contenção, por todos os espaços possíveis ao longo dos decks de acessos. Além disso, uma maior presença de lixeiras e manutenção das mesmas. Quero deixar claro que não sou contra eventos outdoor entretanto, da forma desordenada como ocorreu, acredito que, o dano ambiental tenha sido bem grande e portanto, devemos repensar em como fazer para que não se repita, pois precisamos evoluir e muito nesse quesito.
Os impactos ambientais muitas vezes são decorrentes pelo mau uso do solo ocasionado por empresas, comunidades e particulares que promovem eventos nestes espaços sem considerar as leis ambientais, a conservação e a preservação da integridade física dos ecossistemas. Acredito que para Ferrugem e demais praias daqui, devamos buscar pensamentos holísticos para gestão não só de resíduos sólidos, mas também da poluição sonora. Realizar estudos quanto a capacidade de carga destes locais, por ex., de forma que possamos conduzir os visitantes dentro de um comportamento ajustado de educação ambiental. A desordem leva ao caos, e isso ficou bem claro por lá, na orla da praia onde era terra de ninguém.
O que ficou após esse impacto, provavelmente muitos dejetos, plantas nativas danificadas, centenas de resíduos sólidos (plásticos, alumínios, isopores, ferros, pedaços de madeira outros) jogados ao longo da orla marítima, espalhados pelo solo, todos muito prejudiciais ao ambiente natural, além de serem fatores de degradação da qualidade ambiental.
A ideia da Sustentabilidade em eventos está em alta, e traz consigo muitas vantagens além daquelas publicitárias. Garopaba tem toda uma riqueza natural cênica fantástica e que merece nossa incondicional proteção.
Às ações para minimizar os impactos ambientais, decorrentes da realização de eventos, em espaços sensíveis, devem ser consideradas por instituições públicas de defesa e conservação do meio ambiente e com a plena participação da sociedade, tornando-a mais consciente sobre a conservação do patrimônio natural da humanidade.
(Milton Félix & Suzana Martins, biólogos)