Está cada vez mais insuportável o calor na área central da cidade, comparando aos tempos iniciais de sua urbanização.
E não tem nada a ver com a Groenlândia e Antártica, não adianta cruzar os braços e esperar a Greta nos salvar.
É “cunóis”, aqui era um descampado, corria o vento.
As ruas, poucas, eram de chão e respiravam, não guardavam calor como as atuais de asfalto ou cimento.
As casas, em menor número e menores, eram de madeira e os telhados de barro.
Interessante esta imagem que retrata bem a revolução urbanistica que passou nosso centro de Garopaba, de casas de madeira soltas no terreno com baixa ocupação a prédios geminados com zero verde e dificil circulação de ar, verdadeiros acumuladores de calor.
Nada contra o processo de urbanização, de densificação das construções na zona central. O centro de uma cidade tem esta função e característica. Nele a infraestrutura é maior e aproximar as pessoas, promover seu convívio é saudável.
O que não é saudável é não termos promovido intervenções que compensem esta mudança. Não termos arborizado estas vias, não termos praças e parques, termos permitido geminar as construções, termos permitido pavimentar os lotes acima do legal, termos assistido a praga dos puxadinhos grassar e termos deixado a zona central com cara de cidade medieval, vias e casas.
A diferença é que não jogam os dejetos pela janela, jogam pelo pluvial.
Então, este calor todo, tarde da noite e persiste o bafo, não refresca como antigamente...
Quem gosta é a Midea, a Carrier, a Consul...
O que fazer?
Quer resolver só o seu problema, mas de forma “green”, a solução é a autogeração de energia com painéis solares e ar condicionado por tudo. E calor saindo de cada trumbico daqueles para a cidade...
Algo mais coletivo? Bem, um arsenal de armas à disposição da melhoria da condição térmica de nossas casas.
Telhados verdes de nossas paradas de ônibus são admirados por sua originalidade. As tradicionais de concreto e zinco são radiadores de calor, protegem do sol mas não do calor
A vegetação é um ar condicionado que, ao liberar umidade pelas folhas e esta evaporar, retira enormes quantidades de calor do ambiente. Teto verde ou com bom isolamento são fundamentais. Deixar o ar cruzar a casa de forma natural, sem auxílio de energia, é a tal arquitetura passiva. A casa obedece às leis da física, ar quente sobe. Se sair, entrará um frio, ou menos quente. Se nesta tomada de ar tiver mato ou vegetação, aquele ar condicionado natural citado acima, melhor.
Se todos os prédios comerciais tivessem área verde como este, teríamos menos calor acumulado nesta ilha de calor que hoje é o nosso centro
O sol no inverno tem uma inclinação diferente do verão e saber disto ajuda nas definições do projeto. Se a casa está pronta, verde de novo.
Avarandados abertos, não os feche para ganhar mais área, outro crime da civilização urbanoide, esta mania de ganhar área. Quem gosta é quem vende esquadria e cortina. E, talvez, quem os decore. Deixem as varandas vivas, pelamordedeus. Redes e almofadas, sesta é ali que se tira.
Afortunados motoristas de taxi que tem nesta esquina uma sombra abundante. Esperar o cliente não é um martírio que seria em qualquer outro ponto central.
Estou também preocupado com meus vizinhos e com a cidade e seus ocupantes e visitantes? Bem, então, arborização urbana, ontem. E praças e parques com muito verde. E corredores biológicos, e jardins de chuva ao longo das vias, e parklets, e pergolados, enfim uma cidade para o pedestre. Esta cidade dos sonhos reterá menos calor e será mais confortável, mais atraente, mais amigável. Mais digna, mais desejada.
Não acredita? Fica embaixo de um Flamboyant ou Amendoeira ao meio dia e arrisca pisar fora de sua sombra.
Texto Kiko Simch - Engenheiro Agronomo Paisagista @kikosimch
FOTOS - @likoska69